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Estruturas Espaciais (1999)

Tanto minha pesquisa teórica quanto pictórica está centrada no fenômeno cromático. Este projeto envolve planos diversos de interpretação da cor que se entrecruzam. pretendo atualizar a cor, torná-la presente como uma forma de experiência no mundo. Busco cores que surgem nos objetos, através da manipulação das suas formas. Como expandir uma pintura que se apresenta como um quadro único? 


A partir do cinema apreendemos a ver fotogramas em série, os quadros em sequ-ência se tornaram um novo parâmetro para refletir sobre novas possibilidades pic-tóricas. ao utilizar planos em sequência, que negam um ponto de vista único, evoco um olhar móvel que percorre várias janelas por minuto. por outro lado, pretendo trabalhar com a justaposição de planos que saem do formato da tela. utilizei para este fim outros materiais, como as barras de ferro, que pelo seu caráter literal, contrastam com os campos cromáticos em têmpera e produzem uma diferente expansão espacial. Embora aparentemente abstratas, as pinturas remetem a uma paisagem construída, são fragmentos de uma experiência espaço-temporal. as superfícies cromáticas que se sucedem como fotogramas serão feitas a partir de várias camadas, sugerindo uma ação do tempo. 


Busquei nestas pinturas investir em uma forma aberta, que tende a se expandir para o espaço. o espaço representado pela articulação entre cor e desenho neste caso não deve reiterar simplesmente o formato da tela. Em relação aos trabalhos anteriores procurei fazer uma critica à utilização “genealógica” da cor. anteriormente, ao invés de criar uma superfície cromática, evocava uma gênese da cor, instaurando um plano mítico, inaugural. Neste sentido, as pinturas anteriores estavam carregadas de subjetividade, e tínhamos a impressão de olhar um quadro como um espetáculo em formação38. Nestes jogos entre formas captadas no mundo (estruturas de ferro) e as superfícies cromáticas, criei um equilíbrio instável, onde o contexto determina o olhar. acredito ser possível ainda jogar com a aparência, com as ambiguidades da própria pintura, a fim de evitar um formalismo excessivo. Tentei investir nas suas possibilidades pictóricas mediante o contrastes dos materiais, da polaridade cromática, e de uma reflexão sobre sua propriedade espaço-temporal: uma pintura que atualize o fenômeno cromático a cada instante como na arquitetura cromática de Barragan, espaços sóbrios, mas impregnados por mistério, e profundamente humanos. 

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