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Espaço e Sombra Esbatimentos (2013)

Reportagem: Portal do Cruzeiro - Agosto 2013

Construindo com luz, sombra e cor

 

Macs abre hoje a mostra individual de Marco Giannotti. Trata-se de uma das maiores exposições do consagrado artista

 

''A cor é algo que se bem utilizada suscita uma emoção, um estado'', fala Giannotti - Divulgação A primeira grande exposição individual do Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (Macs), A pintura de Marco Giannotti - espaço e sombra/ esbatimentos, que abre hoje à visitação pública, também é uma das mais importantes da carreira do artista. Além de celebrar 20 anos de trabalho em parceria com o museólogo e curador Fábio Magalhães, Giannotti reúne nessa exposição 80 obras que compreendem sua produção dos últimos cinco anos, período de muita efervescência criativa, fortemente influenciada por sua estada de um ano no Japão, em 2011, como professor de cultura brasileira na Universidade de Kyoto. "Essa é uma das maiores exposições do Marco, são 80 peças. Fizemos uma montagem primorosa com as Rua José Maria Hannickel, 76, 8º andar, sala 83, Portal da Colina 18047-360 Sorocaba - SP Q! Notícia Comunicação (15) 3326-2224/2226 obras dos últimos anos, e algumas bem recentes ainda com pintura para secar. Ainda na quinta-feira, ele passou a noite trabalhando nos últimos quadros", conta Magalhães, o curador da exposição.

 

A atividade integra o cronograma de atividades do Macs para o segundo semestre e tem o incentivo do Programa de Ação Cultural (Proac). Entre as 80 obras, é possível encontrar a influência nipônica principalmente na série de colagens produzidas em sua estada no oriente, e também nas cinco e frescas obras criadas especialmente para a exposição, e que versam sobre o tema das estações. Como defende o artista, esse tema é muito marcado na cultura japonesa, onde as estações climáticas são muito bem delineadas. "Conheço a pintura dele (Giannotti) há muitos anos. A exposição gira em torno da pintura, mas incluímos a série de colagens pois o Japão traz um olhar muito importante para a obra dele. O Japão é o país que trabalha a penumbra, a sombra... Há um escritor que diz que sem sombra não há beleza, e Giannotti trabalha com essa sutileza de pequenas alterações e não grandes contrastes", elogia Magalhães. Entre as obra que seguem expostas até o dia 6 de outubro, estão também as 14 telas da premiada exposição de Giannotti, Via Crucis, de 2010, que foi eleita como a melhor exposição daquele ano pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). A boa notícia é que a série de 14 telas sobre as 14 estações que contam os últimos momentos vividos por Cristo, ficará no museu em forma de comodato "por enquanto", reforça Magalhães, que conta ainda que foi a partir dessa ação que deu início a proposta de uma exposição mais abrangente do artista. "Via Crucis é uma série muito importante e o Marco não queria que fosse vendida individualmente. Então estamos fazendo um projeto de aquisição da obra, e a partir dessas negociações, pensamos em fazer uma exposição individual do artista, que está em um momento muito especial", explica o curador. Os quadros são divididos entre pinturas, fotografias e colagens, todos com o intenso jogo de luz e sombra, característicos do artista. Para Magalhães, algumas questões diferenciam os trabalhos de Giannotti dos demais, pois suas obras têm uma estrutura espacial e lírica muito bem construída. Luz, espaço e cor dispostos de maneira minuciosa e única, fatores que ajudam a explicar as nuances de Giannotti. "Ele é um artista que trabalha muito com a questão da luz, da cor, do espaço, é um construtor. Constrói com a luz, com a sombra, e não apenas com a linha. Há uma construção muito elaborada, o conjunto todo é surpreendente", posiciona-se Magalhães.

 

Artista e professor Giannotti, que também participou da mostra Percursos contemporâneos, realizada no segundo semestre de 2012 pelo Macs, é embaixador de Relações Internacionais da Escola de Comunicação e Arte (ECA/USP), da qual é professor. Livre-docente pela mesma universidade, a formação de Giannotti é nas Ciências Sociais com pós-graduação na Filosofia. Para ele, esse conhecimento de sociologia, antropologia, história e política agregam na sua formação artística. "Sempre tive receio de que um estudo restrito das artes não me desse uma formação mais ampla", fala ele, que em 1993, defendeu tese de mestrado, com uma tradução parcial e apresentação crítica da Doutrina das cores de Goethe, que marcou muito sua carreira. Depois, sua tese de doutorado no Paço das Artes foi uma exposição e uma reflexão crítica sobre o fenômeno cromático na arte moderna. Desde então, desenvolve atividades de pesquisa no Departamento de Artes Plásticas da USP, onde também é professor de pintura, estética, filosofia da arte e poéticas visuais. "Goethe é poeta, mas pouca gente sabe que ele estudou 20 anos a cor. Ele inaugura uma interpretação fisiológica da cor, da cor como percepção. Meu trabalho tenta dar uma dimensão expressiva na maneira como a cor chega ao espectador. A cor é algo que se bem utilizada suscita uma emoção, um estado", fala Giannotti sobre suas pesquisas.

 

Quando o assunto é o ensino das artes no Brasil, o artista e professor é bastante crítico. "O que vejo são professores de altíssimo nível, mas que sempre se deparam com problemas estruturais para realizarem seu trabalho", alfineta. Ele mesmo, conta, sente isso no seu dia a dia. "Tudo isso dificulta muito o nosso trabalho." O tom muda ao falar sobre a iniciativa de um museu como o Macs, instalado em uma cidade do interior, contrariando a lógica de que uma instituição como essa precisa estar nos grandes centros. "O museu é a marca da cidade, desempenha um papel educativo para a sociedade. Sorocaba pode se tornar um polo muito importante de turismo. Acho que a cidade ao abraçar esse museu dá um grande passo para o futuro. Tanto a comunidade local passará a se familiarizar com a arte contemporânea, como o público de outros lugares começará a vir para a cidade, por causa do museu. Estou muito honrado em realizar a primeira exposição individual do Macs", elogia Giannotti, que participa hoje da abertura do evento.

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